Uns preferem a MÃO, outros a CONTRAMÃO; e você, prefere o quê?

24 de julho de 2011

BRASIL: QUE PAÍS É ESSE?



                                                                                      Para Renato Russo 

Única democracia plena no grupo dos BRICS e a segunda maior do Ocidente, depois dos Estados Unidos da América, o Brasil, potência regional na América do Sul e a sexta economia do planeta, possui abismos consideráveis e sui generis para um país continental, que aspira ingressar no seleto clube das nações desenvolvidas no século  XXI. Neste sentido, a letra antológica de uma das canções mais belas do inesquecível Renato Russo, cujo título é homônimo do texto em tela, ainda ressoa e reverbera nas mentes brilhantes, opacas e distorcidas no Brasil, após a primeira década do novo século e do novo milênio.
Cumpre lembrar que na década de 80, o país amargava altos índices de inflação, beirando ao colapso financeiro total; e a nossa moeda, os extintos cruzado e cruzado novo, respectivamente, sofreram combalidos os fortes golpes que a inflação famigerada desferiu sobre todos; e os brasileiros, infelizmente, assistiam desesperados à corrosão de seus ganhos e salários. Não viam a luz no fim do túnel e nem o efeito letal do tiro que aniquilaria a inflação, expressões usadas extenuamente pelos mentores e executores do polêmico Plano Collor.
No início dos anos 90, os brasileiros, representados pelos históricos Caras Pintadas, gritaram nas ruas palavras de ordem, e levaram a cabo o processo político, até então inédito, na história da República, no país, que culminou no primeiro impeachment de um presidente eleito pelo voto direto, após os anos de chumbo da didatura militar. Á época, portanto, com uma economia instável, somada a um quadro político interno, extremamente nebuloso, o que denunciava a fragilidade institucional de um Estado, em vias de consolidação das leis democráticas, o país gerou, conseqüentemente, um clima de desconfiança no cenário internacional, e desse modo, a nação brasileira, por muito tempo, esteve nas mãos do FMI, que, insistentemente, batia à porta, exigindo altos pagamentos dos juros de uma dívida, que parecia impagável. O país estava prestes a sofrer uma crise sistêmica, em termos econômicos e sociais; e o caos se instalava, para a desesperança de uma juventude que era, por sua vez, denominada Geração Coca-Cola. Visões de um poeta - visionário  ou retrato de uma juventude alienada?
Recém saído de um período macabro, que foi a ditadura militar, nos anos 60, o Brasil parou no tempo e no espaço por exatos 20 anos em relação ao resto do mundo. O passado recente determinaria, significativamente, os rumos do país rumo ao terceiro milênio, e a intelligentsia brasileira passaria a ter um papel preponderante no que concernia ao futuro indefinido para os brasileiros em todos os segmentos sociais, pois a tarefa hercúlea para recuperar o tempo perdido exigiria dos representantes do pensamento nacional uma guinada radical, na qual a criatividade, a renovação, a ousadia e o desejo de alçar voos altaneiros deveriam ser os itens de uma agenda da qual todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, integrariam: a Agenda 21. Metas em todos os campos deveriam ser atingidas no período aproximado de 20 anos, quando, então, o analfabetismo e as doenças como a malária e a febre amarela deveriam ser erradicadas, bem como as taxas de mortalidade infantil e da pobreza extrema deveriam ser, igualmente, diminuídas. No entanto, o Brasil, ao mostrar a sua cara, apresentava ao mundo a sua triste realidade: um país de desdentados, de analfabetos funcionais; do crime organizado, das favelas, e, principalmente, dos miseráveis - os verdadeiros brasileiros, que não tinham acesso aos direitos universais garantidos pela Constituição. Cenas de um filme de terror ou de um autêntico faroeste cabloco?
O fato é que, após a hiperinflação, que assaltou os primeiros anos da Nova República, e a volta do governo civil, que, em consonância com à Carta Magna, de 1988, modernizou o país, fazendo despertar a cobiça de um mundo na emergência da globalização, a quinta maior nação do planeta Terra, definitivamente, despertou de um sonho, que parecia não ter fim. Gigante pela própria natureza, o Brasil, por esta via, reescrevia a letra do Hino Nacional, deixando para trás o berço esplêndido, no qual estivera adormecido e repousando eternamente, para a felicidade de muitos e para o incômodo de outros, que idealizavam o salto de qualidade da fera tupiniquim, ao lado dos cult Tigres Asiáticos - verdadeiros monstros de papelões, cunhados pela história, que rapidamente avançava, a passos largos, para uma transformação no mapa geopolítico do planeta. O mundo, neste seqüenciamento, já não era mais bipolar, embora já houvesse transtornos de dimensões gigantescas; e a Guerra Fria desaparecia  no horizonte das selvas de pedra como fumaça, circunscrevendo-se às linhas da História, bem com a Cortina de Ferro, que descerrara os segredos, as mazelas e as atrocidades de uma realidade, onde o sangue se confundia com a tinta rubra das canetas comunistas. O marco se tornara, para além de todos os ícones de uma batalha ideológica e silenciosa, entre russos e estadunidenses, o ano de 1989, quando o Muro de Berlim fora derrubado, implacavelmente, determinando, assim, e de forma simbólica, a morte do Comunismo, a reunificação das Alemanhas, a oriental e a ocidental, e a celebração do Capitalismo, que triunfava sobre o Socialismo.
Da Glasnost (Transparência) à Perestroika (Abertura), dos regimes ditatoriais às democracias pujantes, então emergentes, no leste europeu, quando as diversas etnias, livres das amarras de uma pseudo-união, livre e voluntária, proclamavam suas independências e caminhavam, lentamente, para a construção dos estados plenos de direito, a Europa recebia novos contornos geopolíticos e geoeconômicos. Os efeitos da globalização, de um lado, e a integração dos mercados mundiais, forjando a prática neoliberal e a conseqüente abertura de economias fechadas, de outro, atingiram todas as nações, sejam as desenvolvidas, sejam as que já estavam em vias de desenvolvimento; e, nesse contexto, o Brasil estava inserido.
Em fins do século XX, no Brasil, os ventos neoliberais, as políticas de enxugamento da máquina estatal, a retirada gradual do Estado, em vários segmentos da sociedade, a modernização das instituições públicas, aliadas à estabilidade da economia, que teve de fazer ajustes macroeconômicos estruturais, respeitando metas periódicas de inflação para pagamento das dívidas, externa e interna, respectivamente, constituíram-se, dentre outros, em fatores cruciais para a alavancada do país em direção ao tão almejado sonho de se tornar uma das grandes potências do novo milênio. Cabe destacar, nesta diretriz, o incremento às políticas públicas e privadas, destinadas aos investimentos em setores essenciais a fim de aumentar as exportações do país e projetá-lo como uma nação emergente, de fato e de direito, no mundo pós-industrial e informacional. A modernização e a revitalização do parque industrial brasileiro, ampliando o leque de possibilidades dos bens manufaturados, produzidos para o comércio interno e externo, respectivamente, transformaram a face do Brasil, que começou a ser reconhecido não mais como um país essencialmente agrário, ou como o maior exportador de café no planeta, mas, sobretudo, como detentor de commodities importantes, que representam as cartelas comerciais, relativas aos agronegócios, às indústrias de peso, como a Vale do Rio Doce e a Petrobrás, e outros conglomerados de origem privada. Ao lado da China, Rússia, Índia, e, atualmente, do mais novo integrante, a África do Sul, o Brasil é um dos países mais seguros para receber investimentos estrangeiros, de toda ordem, e, principalmente, para fazer transações financeiras, de envergadura, uma vez que o país não está na zona de confrontos, sejam políticos, bélicos e/ou religiosos. Além disso, é necessário pontuar que o país é uma nação laica, e a liberdade de credo e a convivência pacífica entre povos de várias origens, corroboram a tese de um ambiente ímpar, que favorece a tolerância e o clima pacífico para a efetiva consolidação dos several business em solo nacional. É lícito afirmar, portanto, que investir no Brasil é seguro, pois o mercado nacional emergente cresce a taxas regulares, baseado em fundamentos sólidos de uma economia que está diversificada em todos os setores: dos produtos primários aos produtos terciários; dos bens duráveis aos não - duráveis; dos manufaturados leves e pesados às indústrias automobilística e aeronáutica, respectivamente; além do parque energético, que desponta como a grande estrela do novo milênio: a produção maciça de biocombustíveis, que ratifica a posição do país como líder mundial de energia renovável; e, por fim, a descoberta da camada do pré-sal, que, definitivamente, deflagra o novo eldorado nacional, elevando o país ao patamar de maior produtor de petróleo do mundo.
São inumeráveis os fatores, os índices e as estatísticas, que apontam para o cenário promissor, no qual o Brasil emerge como a grande potência do século XXI; e, com efeito, um texto é sobremodo insuficiente para mostrar as variáveis que denunciam a realidade inédita de uma nação, que, em 2015, será a quinta maior economia do planeta. Desse modo, o país, para fazer jus a esta posição, deverá, de forma inequívoca, enfrentar diversos problemas e contrastes, que são, atualmente, os verdadeiros gargalos para o real desenvolvimento de uma das maiores democracias do mundo. As barreiras a serem vencidas são os desafios postos para que o crescimento seja garantido, em níveis sustentáveis, a fim de que a regularidade seja a tônica da expansão da economia, nas múltiplas frentes que se abrem diante das novas demandas, exigidas pelo mercado externo. A confiabilidade nas instituições, o crescimento planejado e ordenado da sociedade civil, o equilíbrio nas contas públicas, a diminuição do déficit, o controle da inflação, o cumprimento das metas primárias, para que o crescimento econômico não seja comprometido, a garantia dos investimentos públicos nas áreas da saúde, da segurança pública e da educação, a distribuição eqüitativa da renda no país, e a erradicação da pobreza, são, indubitavelmente, as próximas etapas a serem cumpridas para que o Brasil elimine, definitivamente, um problema que se arrasta desde a época da colonização: a desigualdade social.
Hodiernamente, a existência de dois, três ou quatro Brasis se constitui em desvio crônico em seu percurso histórico, que já conta com pouco mais de 500 anos de existência - fato inadmissível para uma nação emergente e próxima do primeiro mundo. O Brasil não poderá comportar uma região extremamente rica, que é o sudeste brasileiro, também reconhecido pela expressão "sul maravilha", nem tampouco uma região abundante em recursos naturais e paupérrima em capital humano, em todas as áreas, que é o norte do país. Os bolsões de pobreza, a falta de acesso aos bens essenciais e o saneamento básico, que não atinge, ainda, 50% dos lares brasileiros, são problemas estruturais e graves, e que devem ser resolvidos, sob pena de o país aumentar a distância brutal entre ricos e pobres, acirrando, desse modo, o caos social, e de proporções incontroláveis, no que tange à mobilidade e ao comportamento dos indivíduos na sociedade, que tenderá à criação è a perpetuação do círculo vicioso da criminalidade, com todas as mazelas que dela advir, se medidas sérias e adequadas não forem planejadas e executadas, com eficácia, pelo poder público, no Brasil.  
A imprensa, os órgãos de controle e de fiscalização, nas esferas federal, estadual e municipal, respectivamente; a sociedade civil e as instituições públicas e privadas, em sinergia, devem continuar a árdua tarefa de combate à corrupção, talvez um dos problemas mais graves que assolam o Brasil, e que desafia historiadores, sociólogos, filósofos, líderes religiosos e políticos, pois o desconcerto sobre a corrupção gera teses absurdas, que vão desde a incapacidade de extirpar esse mal, quase incontrolável, da sociedade até à possibilidade da crença de que aquela é fruto de uma herança cultural; ou seria uma herança maldita, ipsis litteris? A corrupção, lamentavelmente, está entranhada em todos os segmentos da sociedade. Dos magistrados notórios às pessoas mais comuns da população, o Brasil, consagrado pela Lei de Gérson, se tornou o país do jeitinho, das gambiarras e dos atalhos sem fim. A falta de caráter de milhões de patriotas em nada tem a ver com a trajetória de Macunaíma, do grande Mário de Andrade, mas com o comportamento despudorado e insano de uma parcela da população, que insiste em práticas, que não se coadunam com os reais valores da democracia nem tampouco com o bem-estar comum. O desmantelamento diário de gangues, e quadrilhas, que vão das comunidades carentes até o Planalto Central, indistintamente, mostra que já existe no país uma geração de indivíduos que decidiu varrer do mapa os milhões de brasileiros que são nocivos à nação, atrasam a evolução saudável, no processo social, e impedem a trajetória digna de um país sério, enterrando, para sempre, na história, as melancólicas palavras de Charles de Gaulle: le Brésil n'est pas un pays sérieux.
O assento entre as nações mais desenvolvidas e importantes do planeta, seja na questão geoeconômica, seja na questão geopolítica, está garantido. Todavia, cumpre lembrar que há vários entraves, ainda, e que precisam ser retirados do meio da caminho para que a ascensão seja proporcional à dimensão histórica do Brasil, no hemisfério sul e no resto do mundo. 
Impõe-se uma oportuna indagação: o país está preparado para sentar-se à mesa e discutir os grandes temas internacionais e afetos à contemporaneidade; ou tem de se debruçar sobre si mesmo para solucionar os problemas domésticos, e que, paradoxalmente, remontam aos séculos XIX e XX? Quem está na mão e quem está na contramão no Brasil?

NA MÃO...


    • A homenagem que a TV Globo presta, em comemoração aos 60 anos da teledramaturgia nacional, ao fazer o remake de um dos folhetins mais célebres na história da telenovela brasileira - O ASTRO - cuja autoria é da maior autora de novelas em todos os tempos, Janete Clair.   


    •  Depois de 5 anos sem gravar, Chico Buarque de Hollanda retorna, com toda sua nobreza, para abrilhantar a MPB e presentear o público com mais um cd de músicas inéditas, intitulado CHICO, que estará disponível nas lojas a partir dia 22 julho do corrente. 



    • Convidado especial, na 9ª edição da FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty -, o escritor português Walter Hugo Mãe foi a grande estrela do evento em 2011, quando lançou na terra brasilis o romance A Máquina de fazer espanhóis, considerado o grande evento na literatura lusa no ano passado.  


      NA CONTRAMÃO...











      • A morte precoce da cantora Amy Winehouse, aos 27 anos de idade, que, em sua passagem meteórica, resgatou a verdadeira black music, e reviveu os áureos tempos das grandes cantoras da soul music e do jazz americano. A performance e o talento inconfundíveis da branca de voz negra foram comparados aos das  grandes divas estadunidenses como Aretha Franklin, Nina Simone e Billie Holiday.

      • Os dois atentados na Noruega, em 22 de julho, que elevaram, neste sábado, para 92 o número de mortos, na ilha de Utoya, localizada na periferia de Oslo. Considerado um dos países com os menores índices de violência na Europa, o mundo assistiu consternado ao massacre de civis e inocentes em uma nação de laços pacíficos com o mundo e, principalmente, com os imigrantes, que compõem um percentual considerável na população norueguesa.


      • O aumento da taxa Selic, de 12,25% para 12,50%, pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central - COPOM. Sob o argumento de manter a estabilidade da economia, o governo aumentou os juros reais, beneficiando, exclusivamente, o mercado financeiro. Com essa medida, o Brasil continua a liderar o ranking dos países com as maiores taxas de juros reais do mundo. A indústria nacional acumula perdas consideráveis devido aos altos custos de sua produção, pois os produtos brasileiros ficam mais caros que os importados, e os brasileiros têm o poder de compra reduzido abruptamente.