Uns preferem a MÃO, outros a CONTRAMÃO; e você, prefere o quê?

2 de novembro de 2011

COMO É BOM MORRER NO TRÂNSITO!



A frase exclamativa, que intitula o texto em questão, não poderia ser mais medonha; não deveria ser mais realista. Mas, lamentavelmente, é. Esta afirmação, que nada tem de heróica ou de prestígio, é a fotografia fidedigna do que acontece nos aproximados 1,5 milhão de estradas existentes no Brasil, dos quais apenas 213 rodovias são pavimentadas no país, que, ao invés de integrar lugares e pessoas, encurtando distâncias, desintegra vidas e aumenta fossos consideráveis no que tange à complexa e mal fadada estrutura da máquina governamental no quesito Transportes em todos os níveis.

Inicia-se aqui, portanto, não a nossa trajetória mítica por mais um capítulo da desolada estória de um país, que aspira adentrar o seleto clube das nações desenvolvidas e civilizadas; ao contrário, tomando de assalto o clássico e famoso chamamento da lendária mulher, que, com sua voz forte, dava a largada à mais cara corrida de automóveis no mundo, no legendário circuito de Indianópolis, nos Estados Unidos, a escrita sobre quatro rodas tem a missão inequívoca de ser um convite à rota de colisão. Assim, para consagrar o rito que virou rito e glamour: Ladies and gentlemen, start your engines!

É aterroradora a constatação, que deixou de ser crítica para se tornar em fato crônico, de que os números em acidentes fatais, no trânsito brasileiro, crescem em proporções gigantescas, mostrando, na prática, o fracasso das políticas públicas para o setor, que é da responsabilidade do Ministério dos Transportes. O mote de que todos os problemas que deveriam ser geridos pelas esferas governamentais, também seriam da responsabiliade civil, perdeu o fôlego, assim como milhares de vidas, que são ceifadas, a cada minuto, nas estradas brasileiras, sejam motoristas, caronas, pedestres e/ou transeuntes. Ninguém escapa à fatia de um bolo solado, pesado, sem gosto e nada saudável!

Todos nós sabemos que o Ministério dos Transportes sempre foi um elefante branco, uma pirâmide brasileira, que reduz a pó a imbatível e milenar pirâmide de Gizé, no Egito, no que concerne a enigmas. Cifras vultosas são destinadas àquela pasta; além dos sanguinários impostos que são cobrados todos os anos aos condutores de veículos automotivos, e que servem para engordar o paquiderme que é o MT e toda sua rede marcada pela inoperância e incompetência, há décadas no Brasil. A saber: o Dnit, o Denatran e os Detrans estaduais. O montante recolhido por estes órgãos, que deveria ser aplicado na ampliação da malha rodoviária do país bem como a sua manutenção, para modernizar as estradas e reduzir drasticamente os acidentes  de trânsito, simplesmente desaparece da visão de todos como um coelho na cartola de um charlatão. E isso acontece há muito tempo no Brasil, desde os tempos sombrios da ditadura militar, que cunhou no imaginário de um povo cordeiro e pacífico, manipulado como gado por nossos algozes históricos, o seguinte lema: "Brasil - integre-o para não entregá-lo." Entregue, o país não foi, ou será que foi? Mas, infelizmente, integrado o nosso país não está. Quando sabemos que as estradas matam, em verdade, a conclusão é a mais óbvia: a vida se desintegrou por completo.

Os índices que determinam os acidentes no trânsito, com vítimas fatais ou não, parecem insolúveis para vários governos, representados nas esferas municipal, estadual e federal, respectivamente. A inoperância das ações daqueles e a percepção clara da sociedade civil, que testemunha, também engessada, a falta total de articulação entre os órgãos, as autoridades responsáveis pelo setor e os legisladores, são verdades irrefutáveis diante do caos que se instalou no país, que, paradoxalmente, detém o 6º lugar no mundo em produção de automóveis. Produzimos tantos automóveis em proporção fenomenal ao número de vítimas que são mortas nas tragédias urbanas, que já se tornaram cenas comuns em jornais, periódicos, noticiários etc. E as discussões sobre as alterações no código nacional de trânsito se arrastam no Congresso Nacional bem como a criação de uma lei mais eficaz que minimize os prejuízos causados por uma anomalia, que é a má utilização dos veículos automotivos de toda ordem. O que era para ser um bem de consumo durável para proporcionar conforto e lazer, já que ter um carro ou uma moto há muito deixara de ser privilégio de poucos, se tornou em um mal. O prazer atualmente mata, e mata sobre rodas!

O problema envolve vários segmentos sociais, e as conseqüências são desastrosas no curto, no médio e no longo prazos devidos. Para um observador leigo, um acidente é e será sempre um acidente, o que é óbvio,  é claro; mas para um analista de fenônemos sociais, um acidente ultrapassa a aparente expectação de uma cena espetacular com efeitos trágicos ou traumáticos para um indivíduo ou para um grupo de pessoas. Em geral, no Brasil, e também não é diferente no resto do mundo, os condutores de veículos automotivos, sejam os de quatro rodas, os carros, ou os de duas rodas, as motocicletas, são do gênero masculino. Tal constatação deflagra um cenário que põe em risco a estrutura da pirâmide social, vista pelo prisma da distribuição quantitativa entre homens e mulheres na sociedade e o efeito devastador, que desequilibra o prumo e faz os grupos sociais terem mais homens e menos mulheres. Isto não é pontual, está aqui, alhures, e em todos os lugares. No médio e longo prazos, portanto, ao redor do mundo, teremos números apavorantes no que tange à distribuição proporcional de homens e mulheres em grupos sociais. É imperante ressaltar que é perceptível esse aumento considerável, uma vez que os homens, por portarem e manipularem armas de fogo, já são as maiores vítimas, em número, no item relativo aos crimes por uso daquelas, nos quais as referidas armas são responsáveis pela diminuição maciça da população masculina no planeta. A morte no trânsito, neste sentido, só agrava a violência e sua escalada sem limites no horizonte das sociedades ditas modernas.

Um olhar radical sobre a questão, a meu ver, incidirá sobre o ponto de estrangulamento, que acomete o sistema, cuja operância, eficácia e permanência da sobrevida daquele dependerá única e exclusivamente da consciência das autoridades, instituições e órgãos afins acerca de um tema que deve ser enfrentado por todos, caso o caos no trânsito nas metrópoles desordenadas dos ex-países do antigo Terceiro Mundo, agora na refinada classe executiva que emergiu, como o Brasil, se transforme e se consolide, para o desespero e desvario de todos, em apocalipse, sem qualquer hiperbolismo ou fatalismo de quem quer que seja. A saber: EDUCAÇÃO.

A violência urbana, no que tange a acidentes de trânsito, de toda ordem, com ou sem vítimas fatais, já ratificado anteriormente, é, inequivocamente, um assunto subordinado à segurança pública. Entretanto, antes de ser um problema de segurança, sem quaisquer predicativos, é, afirmativamente, um problema de educação. Motoristas e pedestres reproduzem nas estradas, nas ruas e nos asfaltos a boa educação, a má educação ou, infelizmente, a  falta total de educação, pois há um ditado popular que sabiamente sintetiza esse pensamento: "o hábito de casa vai à praça." Assim se comportam todos. O mais grave neste painel é justamente aquele ou aquelas pessoas, educadas, que sofrem com o ensandecimento dos mal educados que circulam por aí, pela ótica de quem conduz um veículo ou de quem anda a pé ou de bicicleta. A regra da boa educação e da boa convivência entre os civilizados vale para os dois lados: é uma via de mão dupla!

Penso, convictamente, de que temas como primeiros socorros, educação sexual e comportamento no trânsito devam ser tópicos obrigatórios e constantes nos currículos escolares do ensino fundamental. Esses e outros assuntos são, com efeito, questões de cidadania. A cidadania é um aprendizado que deve ser ensinado em casa, através de dois pilares fundamentais e que corroboram o que se entende por príncipios: a Ética e a Moral. À escola caberia nortear, como ambiente de socialização, a práxis de uma parcela microscópica da sociedade, que seria preparada para tomar as rédeas dos direitos e deveres, a serem exercidos pelos alunos, como futuros cidadãos, de forma saudável, consciente e equilibrada. À vida seria restituído o valor inalienável e imponderável, que é o de viver na plenitude do gozo de todos os bens a que todo ser humano tem direito; e o respeito mútuo, desse modo, voltaria a ser a norma universal, que balizaria os dois lados de uma balança gêmea e eqüitativa.

A violência no trânsito no Brasil, em 2010, atingiu a cifra de 32% de óbitos, em um universo masculino, compreendendo a faixa etária de 18 - 24 anos; e, ampliando as estatísticas para um espectro mais abrangente, a cifra atingiu a nefasta casa dos 57%, na qual a parcela de mulheres presentes nos quadros de amostragens, seja por regiões no país ou na totalidade é inexpressiva, sacramentando o fato crescente de que no médio prazo a nossa sociedade será composta, por vias não naturais, de mais mulheres do que de homens; e no longo prazo haverá, por conseguinte, um descréscimo quantitativo de indivíduos masculinos nos grupos sociais, e o desequilibrio será descomunal.

O Brasil ocupa o desonroso 10° lugar em acidentes de transportes, em vias públicas e privadas; e este problema, já salientado aqui, por ser um tema eminentemente educacional, é um dos entraves claros para que a 7ª economia do planeta seja reconhecida pela comunidade internacional como uma nação que emergiu e que possa ocupar, com distinção, o seu lugar como país civilizado ao lado de outras nações desenvolvidas, que respeita leis, cidadãos; e que, acima de tudo, educa a sua população, de fato e de direito.

Cursos relâmpagos em auto-escolas, candidatos despreparados, bafômetros nas estradas para os motoristas alcoolizados, rodovias mal conservadas, falta de fiscalização, corrupção em todos os níveis, gangues especializadas na fabricação de carteiras de habilitação falsas; e outros tantos disparates concorrem para o descalabro, em que se tornou o trânsito na malha viária por todo território nacional; refletindo, em última análise, o atraso, a incompetência, a falta de gestão, o desrespeito à vida e a perda dos valores reais da Cidadania.

Os gregos, com sua Paidéia, formavam o cidadão helênico para a vida, exercendo os plenos direitos da democracia na Antigüidade Clássica, e cumprindo, de forma consciente todos os seus deveres para que o Estado funcionasse, a contento. Naquela época, veículos não existiam nem tampouco trânsitos engarrafados e indivíduos infratores das leis, que eram, estas últimas, acima de tudo, a baliza máxima para manter a boa convivência entre o povo e suas autoridades. Caso existissem os veículos e, claro, com seus proprietários e condutores, certamente, não haveria necessidade de faixas, sinais, códigos, aparelhos repressores, fiscalização na vastidão que foi a Grécia no apogeu de seus domínios. Como eram educados e todos se respeitavam, mutuamente, a vida seria preservada, e jamais haveria um óbito sequer no tempo da comédia e da tragédia. Ninguém morreria no trânsito porque o Caos seria, como é, uma bela imagem da mitologia que criou o mundo, e o lema seria outro: como é bom viver no trânsito!


NA MÃO...













  • Na última segunda - feira, dia 31 de outubro, se estivesse vivo, Carlos Drummond de Andrade completaria 109 anos de idade; e, por iniciativa do Instituto Moreira Salles, foi lançada a campanha nacional pelo dia D (dia do Drummond), a ser incluído no calendário das comemorações culturais do país, para homenagear este que foi o maior poeta brasileiro de todos os tempos: Carlos Drummond de Andrade. Salve o inesquecível Drummond, salve o dia D!





    • A interpretação arrebatadora da atriz Lilia Cabral, no papel da personagem Griselda (Pereirão, o marido de aluguel), na novela Fina Estampa, de Aguinaldo Silva - o atual folhetim da TV Globo, no ar, diariamente, às 21 horas. A atriz, que protagoniza, pela primeira vez, uma telenovela, é a única artista brasileira a ser indicada 2 vezes ao prêmio Emmy, considerado o Oscar da televisão internacional, na categoria de melhor atriz estrangeira por sua atuação impecável nas novelas Página da Vida, interpretando a personagem Marta, uma das vilãs naquela trama, e a personagem Tereza, de Viver a Vida, respectivamente.




    • O dia 31 de outubro de 2011 entrou para a História como o dia em que a população mundial atingiu a incrível marca de 7 bilhões de pessoas espalhadas nos cinco continentes. O crescimento populacional é liderado pela Ásia seguida pela África. O nascimento de Danica Maia Camacho, nas Filipinas, foi escolhido como o símbolo do número da megapopulação de humanos na Terra. Os desafios são muitos nas décadas vindouras, pois segundo cálculos estatísticos, a população mundial ultrapassará a casa dos 9 bilhões por volta do ano de 2050. Celebremos a vitória da vida: vida longa para Danica, vida longa para o Planeta Terra!




      NA CONTRAMÃO...














      • O fiasco que foi mais uma vez a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio - o ENEM. A versão 2010 já tinha sido uma prova cabal de que o Ministério da Educação e Cultura, Inep e os tutores do exame, que visa a universalizar, no Brasil, o método para o ingresso no ensino superior público, são completamente incompetentes para gerir o processo com a lisura e a transparência que aquele deveria ter. A experiência passada não foi aprendida por aqueles que se dizem capacitados para gestar a educação no Brasil, e, como não fizeram o dever de casa direito, o país assiste a mais uma trapalhada do exame, quando 14 questões, de um dos cadernos, vazaram e foram aplicadas por um colégio particular, no estado do Ceará. A Justiça Federal naquele estado anulou as questões vazadas, e cabe, agora, ao Poder Executivo a manutenção do certame com as questões anuladas ou a anulação do concurso em nível nacional. 



        • O corte de 60 bilhões anuais efetivado pelos Estados Unidos à UNESCO por ser a primeira agência da ONU a reconhecer oficialmente a Palestina como Estado membro pleno da entidade. A medida faz parte de uma série de represálias, já anunciadas e em andamento pelo governo estadunidense, que, na contramão da história, pretende malograr o sonho palestino de ser aceito como país integrante das Organizações das Nações Unidas, no próximo dia 11 do corrente, quando o Conselho de Segurança se reunirá para decidir se aceita ou não o pedido formal de adesão da Palestina àquele organismo internacional. Mahmud Abbas, o presidente da autoridade nacional palestina, em 23 de setembro deste ano, apresentou, em assembleia histórica, o referido pedido de adesão à ONU e o reconhecimento para que a Palestina seja reconhecida como estado soberano, de fato e de direito.




        • A notícia que surpreendeu todos os brasileiros e o mundo sobre o câncer que está acometendo o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva - o Lula. Lula foi internado imediatamente, após a descoberta de um tumor maligno, de tamanho médio, na faringe, no Hospital Sírio-Libanês, no último final de semana. Em seguida, os médicos procederam aos primeiros exames e já inciararm o tratamento com quimioterapia. Ao ser liberado para repousar em casa, o ex-presidente já deu sinais de força e reação à doença, pois os sintomas esperados e desagradáveis, devido à aplicação do coquetel quimioterápico, segundo a junta médica, não causou indisposição no ex-presidente. Antes de o ex-presidente retornar à residência, ele, acompanhado de D. Mariza, a ex-primeira dama, gravou um vídeo, no qual, visivelmente emocionado e com a voz, ainda rouca, agradeceu a todos os brasileiros e amigos pelas manisfetações de solidariedade, preocupação e carinho dispensados a ele por mais esta batalha, segundo suas palavras.







        24 de julho de 2011

        BRASIL: QUE PAÍS É ESSE?



                                                                                              Para Renato Russo 

        Única democracia plena no grupo dos BRICS e a segunda maior do Ocidente, depois dos Estados Unidos da América, o Brasil, potência regional na América do Sul e a sexta economia do planeta, possui abismos consideráveis e sui generis para um país continental, que aspira ingressar no seleto clube das nações desenvolvidas no século  XXI. Neste sentido, a letra antológica de uma das canções mais belas do inesquecível Renato Russo, cujo título é homônimo do texto em tela, ainda ressoa e reverbera nas mentes brilhantes, opacas e distorcidas no Brasil, após a primeira década do novo século e do novo milênio.
        Cumpre lembrar que na década de 80, o país amargava altos índices de inflação, beirando ao colapso financeiro total; e a nossa moeda, os extintos cruzado e cruzado novo, respectivamente, sofreram combalidos os fortes golpes que a inflação famigerada desferiu sobre todos; e os brasileiros, infelizmente, assistiam desesperados à corrosão de seus ganhos e salários. Não viam a luz no fim do túnel e nem o efeito letal do tiro que aniquilaria a inflação, expressões usadas extenuamente pelos mentores e executores do polêmico Plano Collor.
        No início dos anos 90, os brasileiros, representados pelos históricos Caras Pintadas, gritaram nas ruas palavras de ordem, e levaram a cabo o processo político, até então inédito, na história da República, no país, que culminou no primeiro impeachment de um presidente eleito pelo voto direto, após os anos de chumbo da didatura militar. Á época, portanto, com uma economia instável, somada a um quadro político interno, extremamente nebuloso, o que denunciava a fragilidade institucional de um Estado, em vias de consolidação das leis democráticas, o país gerou, conseqüentemente, um clima de desconfiança no cenário internacional, e desse modo, a nação brasileira, por muito tempo, esteve nas mãos do FMI, que, insistentemente, batia à porta, exigindo altos pagamentos dos juros de uma dívida, que parecia impagável. O país estava prestes a sofrer uma crise sistêmica, em termos econômicos e sociais; e o caos se instalava, para a desesperança de uma juventude que era, por sua vez, denominada Geração Coca-Cola. Visões de um poeta - visionário  ou retrato de uma juventude alienada?
        Recém saído de um período macabro, que foi a ditadura militar, nos anos 60, o Brasil parou no tempo e no espaço por exatos 20 anos em relação ao resto do mundo. O passado recente determinaria, significativamente, os rumos do país rumo ao terceiro milênio, e a intelligentsia brasileira passaria a ter um papel preponderante no que concernia ao futuro indefinido para os brasileiros em todos os segmentos sociais, pois a tarefa hercúlea para recuperar o tempo perdido exigiria dos representantes do pensamento nacional uma guinada radical, na qual a criatividade, a renovação, a ousadia e o desejo de alçar voos altaneiros deveriam ser os itens de uma agenda da qual todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, integrariam: a Agenda 21. Metas em todos os campos deveriam ser atingidas no período aproximado de 20 anos, quando, então, o analfabetismo e as doenças como a malária e a febre amarela deveriam ser erradicadas, bem como as taxas de mortalidade infantil e da pobreza extrema deveriam ser, igualmente, diminuídas. No entanto, o Brasil, ao mostrar a sua cara, apresentava ao mundo a sua triste realidade: um país de desdentados, de analfabetos funcionais; do crime organizado, das favelas, e, principalmente, dos miseráveis - os verdadeiros brasileiros, que não tinham acesso aos direitos universais garantidos pela Constituição. Cenas de um filme de terror ou de um autêntico faroeste cabloco?
        O fato é que, após a hiperinflação, que assaltou os primeiros anos da Nova República, e a volta do governo civil, que, em consonância com à Carta Magna, de 1988, modernizou o país, fazendo despertar a cobiça de um mundo na emergência da globalização, a quinta maior nação do planeta Terra, definitivamente, despertou de um sonho, que parecia não ter fim. Gigante pela própria natureza, o Brasil, por esta via, reescrevia a letra do Hino Nacional, deixando para trás o berço esplêndido, no qual estivera adormecido e repousando eternamente, para a felicidade de muitos e para o incômodo de outros, que idealizavam o salto de qualidade da fera tupiniquim, ao lado dos cult Tigres Asiáticos - verdadeiros monstros de papelões, cunhados pela história, que rapidamente avançava, a passos largos, para uma transformação no mapa geopolítico do planeta. O mundo, neste seqüenciamento, já não era mais bipolar, embora já houvesse transtornos de dimensões gigantescas; e a Guerra Fria desaparecia  no horizonte das selvas de pedra como fumaça, circunscrevendo-se às linhas da História, bem com a Cortina de Ferro, que descerrara os segredos, as mazelas e as atrocidades de uma realidade, onde o sangue se confundia com a tinta rubra das canetas comunistas. O marco se tornara, para além de todos os ícones de uma batalha ideológica e silenciosa, entre russos e estadunidenses, o ano de 1989, quando o Muro de Berlim fora derrubado, implacavelmente, determinando, assim, e de forma simbólica, a morte do Comunismo, a reunificação das Alemanhas, a oriental e a ocidental, e a celebração do Capitalismo, que triunfava sobre o Socialismo.
        Da Glasnost (Transparência) à Perestroika (Abertura), dos regimes ditatoriais às democracias pujantes, então emergentes, no leste europeu, quando as diversas etnias, livres das amarras de uma pseudo-união, livre e voluntária, proclamavam suas independências e caminhavam, lentamente, para a construção dos estados plenos de direito, a Europa recebia novos contornos geopolíticos e geoeconômicos. Os efeitos da globalização, de um lado, e a integração dos mercados mundiais, forjando a prática neoliberal e a conseqüente abertura de economias fechadas, de outro, atingiram todas as nações, sejam as desenvolvidas, sejam as que já estavam em vias de desenvolvimento; e, nesse contexto, o Brasil estava inserido.
        Em fins do século XX, no Brasil, os ventos neoliberais, as políticas de enxugamento da máquina estatal, a retirada gradual do Estado, em vários segmentos da sociedade, a modernização das instituições públicas, aliadas à estabilidade da economia, que teve de fazer ajustes macroeconômicos estruturais, respeitando metas periódicas de inflação para pagamento das dívidas, externa e interna, respectivamente, constituíram-se, dentre outros, em fatores cruciais para a alavancada do país em direção ao tão almejado sonho de se tornar uma das grandes potências do novo milênio. Cabe destacar, nesta diretriz, o incremento às políticas públicas e privadas, destinadas aos investimentos em setores essenciais a fim de aumentar as exportações do país e projetá-lo como uma nação emergente, de fato e de direito, no mundo pós-industrial e informacional. A modernização e a revitalização do parque industrial brasileiro, ampliando o leque de possibilidades dos bens manufaturados, produzidos para o comércio interno e externo, respectivamente, transformaram a face do Brasil, que começou a ser reconhecido não mais como um país essencialmente agrário, ou como o maior exportador de café no planeta, mas, sobretudo, como detentor de commodities importantes, que representam as cartelas comerciais, relativas aos agronegócios, às indústrias de peso, como a Vale do Rio Doce e a Petrobrás, e outros conglomerados de origem privada. Ao lado da China, Rússia, Índia, e, atualmente, do mais novo integrante, a África do Sul, o Brasil é um dos países mais seguros para receber investimentos estrangeiros, de toda ordem, e, principalmente, para fazer transações financeiras, de envergadura, uma vez que o país não está na zona de confrontos, sejam políticos, bélicos e/ou religiosos. Além disso, é necessário pontuar que o país é uma nação laica, e a liberdade de credo e a convivência pacífica entre povos de várias origens, corroboram a tese de um ambiente ímpar, que favorece a tolerância e o clima pacífico para a efetiva consolidação dos several business em solo nacional. É lícito afirmar, portanto, que investir no Brasil é seguro, pois o mercado nacional emergente cresce a taxas regulares, baseado em fundamentos sólidos de uma economia que está diversificada em todos os setores: dos produtos primários aos produtos terciários; dos bens duráveis aos não - duráveis; dos manufaturados leves e pesados às indústrias automobilística e aeronáutica, respectivamente; além do parque energético, que desponta como a grande estrela do novo milênio: a produção maciça de biocombustíveis, que ratifica a posição do país como líder mundial de energia renovável; e, por fim, a descoberta da camada do pré-sal, que, definitivamente, deflagra o novo eldorado nacional, elevando o país ao patamar de maior produtor de petróleo do mundo.
        São inumeráveis os fatores, os índices e as estatísticas, que apontam para o cenário promissor, no qual o Brasil emerge como a grande potência do século XXI; e, com efeito, um texto é sobremodo insuficiente para mostrar as variáveis que denunciam a realidade inédita de uma nação, que, em 2015, será a quinta maior economia do planeta. Desse modo, o país, para fazer jus a esta posição, deverá, de forma inequívoca, enfrentar diversos problemas e contrastes, que são, atualmente, os verdadeiros gargalos para o real desenvolvimento de uma das maiores democracias do mundo. As barreiras a serem vencidas são os desafios postos para que o crescimento seja garantido, em níveis sustentáveis, a fim de que a regularidade seja a tônica da expansão da economia, nas múltiplas frentes que se abrem diante das novas demandas, exigidas pelo mercado externo. A confiabilidade nas instituições, o crescimento planejado e ordenado da sociedade civil, o equilíbrio nas contas públicas, a diminuição do déficit, o controle da inflação, o cumprimento das metas primárias, para que o crescimento econômico não seja comprometido, a garantia dos investimentos públicos nas áreas da saúde, da segurança pública e da educação, a distribuição eqüitativa da renda no país, e a erradicação da pobreza, são, indubitavelmente, as próximas etapas a serem cumpridas para que o Brasil elimine, definitivamente, um problema que se arrasta desde a época da colonização: a desigualdade social.
        Hodiernamente, a existência de dois, três ou quatro Brasis se constitui em desvio crônico em seu percurso histórico, que já conta com pouco mais de 500 anos de existência - fato inadmissível para uma nação emergente e próxima do primeiro mundo. O Brasil não poderá comportar uma região extremamente rica, que é o sudeste brasileiro, também reconhecido pela expressão "sul maravilha", nem tampouco uma região abundante em recursos naturais e paupérrima em capital humano, em todas as áreas, que é o norte do país. Os bolsões de pobreza, a falta de acesso aos bens essenciais e o saneamento básico, que não atinge, ainda, 50% dos lares brasileiros, são problemas estruturais e graves, e que devem ser resolvidos, sob pena de o país aumentar a distância brutal entre ricos e pobres, acirrando, desse modo, o caos social, e de proporções incontroláveis, no que tange à mobilidade e ao comportamento dos indivíduos na sociedade, que tenderá à criação è a perpetuação do círculo vicioso da criminalidade, com todas as mazelas que dela advir, se medidas sérias e adequadas não forem planejadas e executadas, com eficácia, pelo poder público, no Brasil.  
        A imprensa, os órgãos de controle e de fiscalização, nas esferas federal, estadual e municipal, respectivamente; a sociedade civil e as instituições públicas e privadas, em sinergia, devem continuar a árdua tarefa de combate à corrupção, talvez um dos problemas mais graves que assolam o Brasil, e que desafia historiadores, sociólogos, filósofos, líderes religiosos e políticos, pois o desconcerto sobre a corrupção gera teses absurdas, que vão desde a incapacidade de extirpar esse mal, quase incontrolável, da sociedade até à possibilidade da crença de que aquela é fruto de uma herança cultural; ou seria uma herança maldita, ipsis litteris? A corrupção, lamentavelmente, está entranhada em todos os segmentos da sociedade. Dos magistrados notórios às pessoas mais comuns da população, o Brasil, consagrado pela Lei de Gérson, se tornou o país do jeitinho, das gambiarras e dos atalhos sem fim. A falta de caráter de milhões de patriotas em nada tem a ver com a trajetória de Macunaíma, do grande Mário de Andrade, mas com o comportamento despudorado e insano de uma parcela da população, que insiste em práticas, que não se coadunam com os reais valores da democracia nem tampouco com o bem-estar comum. O desmantelamento diário de gangues, e quadrilhas, que vão das comunidades carentes até o Planalto Central, indistintamente, mostra que já existe no país uma geração de indivíduos que decidiu varrer do mapa os milhões de brasileiros que são nocivos à nação, atrasam a evolução saudável, no processo social, e impedem a trajetória digna de um país sério, enterrando, para sempre, na história, as melancólicas palavras de Charles de Gaulle: le Brésil n'est pas un pays sérieux.
        O assento entre as nações mais desenvolvidas e importantes do planeta, seja na questão geoeconômica, seja na questão geopolítica, está garantido. Todavia, cumpre lembrar que há vários entraves, ainda, e que precisam ser retirados do meio da caminho para que a ascensão seja proporcional à dimensão histórica do Brasil, no hemisfério sul e no resto do mundo. 
        Impõe-se uma oportuna indagação: o país está preparado para sentar-se à mesa e discutir os grandes temas internacionais e afetos à contemporaneidade; ou tem de se debruçar sobre si mesmo para solucionar os problemas domésticos, e que, paradoxalmente, remontam aos séculos XIX e XX? Quem está na mão e quem está na contramão no Brasil?

        NA MÃO...


          • A homenagem que a TV Globo presta, em comemoração aos 60 anos da teledramaturgia nacional, ao fazer o remake de um dos folhetins mais célebres na história da telenovela brasileira - O ASTRO - cuja autoria é da maior autora de novelas em todos os tempos, Janete Clair.   


          •  Depois de 5 anos sem gravar, Chico Buarque de Hollanda retorna, com toda sua nobreza, para abrilhantar a MPB e presentear o público com mais um cd de músicas inéditas, intitulado CHICO, que estará disponível nas lojas a partir dia 22 julho do corrente. 



          • Convidado especial, na 9ª edição da FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty -, o escritor português Walter Hugo Mãe foi a grande estrela do evento em 2011, quando lançou na terra brasilis o romance A Máquina de fazer espanhóis, considerado o grande evento na literatura lusa no ano passado.  


            NA CONTRAMÃO...











            • A morte precoce da cantora Amy Winehouse, aos 27 anos de idade, que, em sua passagem meteórica, resgatou a verdadeira black music, e reviveu os áureos tempos das grandes cantoras da soul music e do jazz americano. A performance e o talento inconfundíveis da branca de voz negra foram comparados aos das  grandes divas estadunidenses como Aretha Franklin, Nina Simone e Billie Holiday.

            • Os dois atentados na Noruega, em 22 de julho, que elevaram, neste sábado, para 92 o número de mortos, na ilha de Utoya, localizada na periferia de Oslo. Considerado um dos países com os menores índices de violência na Europa, o mundo assistiu consternado ao massacre de civis e inocentes em uma nação de laços pacíficos com o mundo e, principalmente, com os imigrantes, que compõem um percentual considerável na população norueguesa.


            • O aumento da taxa Selic, de 12,25% para 12,50%, pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central - COPOM. Sob o argumento de manter a estabilidade da economia, o governo aumentou os juros reais, beneficiando, exclusivamente, o mercado financeiro. Com essa medida, o Brasil continua a liderar o ranking dos países com as maiores taxas de juros reais do mundo. A indústria nacional acumula perdas consideráveis devido aos altos custos de sua produção, pois os produtos brasileiros ficam mais caros que os importados, e os brasileiros têm o poder de compra reduzido abruptamente.